sexta-feira, 29 de maio de 2009

PROSAS E VERSOS: EMOÇÕES QUE SE ENCAIXAM

Por cima, e acima de tudo, vestido
Leve, mas leve para que veja tuas formas
Por baixo, e só abaixo, uma peça só
Só peço esta peça
Sinto, um cinto como convém
Para marcar a cintura, loucura
No mais, nada mais
Para que eu chegue e encoste
Presente pela frente
A saia quero que saia
Puxo, um luxo erguer num empuxo
Sobe, mostra e deixe que mostre
Joelhos, coxas e quadril
Um quente, quase carente
Um duplo molhado, olhado, oleado
Já sinto, talvez jacinto, forte como absinto
De frente, enfrenta
De perto, aperta
A alça caída, leva num leve levar
Do topo para o meio
Descobre o que te encobre
Pela pele, pelos pêlos
Montes que soube mostrar
Encosta, tuas costas
A nuca nunca esqueci
Um cheiro, ligeiro, mordente
E de repente, somos um só
Não mais só
Só outra vez, um só
Só como um só nó
Enrolado, lado a lado, enroscado
E lembro você a dizer, encaixado
Encaixa bem, é o bem encaixado
Encaixa tão bem que faz bem
Ficará sempre encaixado
No futuro e no passado
Exclusivo de nós dois
Bom que nunca foi tão bom!
 
Texto (20.3.2007) e foto: Orley


VERSOS E PROSAS: IMAGEM DA IMAGINAÇÃO

A janela aberta, o dia.
Da luz umas lembranças.
Da névoa, difusas formas se juntam.
As nuvens carregam imagens de meu olhar perdido.
Os sons, pararam.
A realidade, sumiu.
Entre uma tragada e outra, um filme.
Um tapete, um abat-jour de luz amarela, uma música.
Desfaz-se e recria.
Lençóis, almofadas, penumbra.
Apaga e transforma.
Violetas, pretos, azuis orientais.
A mão no vidro da janela fria.
Parece que sinto.
Acetinados, brilhantes, todos caíndo.
Disperso, imagino e crio.
Cantos, encostos, colo, parede, piso.
A brasa do cigarro próximo ao dedo, lembra.
Calor, suor, temperatura subindo, formas que se juntam.
Na fumaça expelida, uma certeza.
Sensação, finalização, consagração e êxtase.
Na janela, a chuva, água, úmido, gotas que escorrem.
Apago tudo e volto para o chão.
  
Texto e Foto: Orley

quarta-feira, 27 de maio de 2009

FÁBULA: AS BORBOLETAS


Em uma floresta, habitavam borboletas. Muitas e de vários tipos. Mas em especial havia a borboleta branca e a borboleta azul. Embora a floresta fosse grande, às vezes a borboleta branca deparava com a azul e ficava observando seu vôo . Durante algum tempo foi assim.

A borboleta azul era um tipo imponente, gostava de ser livre e de voar para onde queria e quando queria. Voava alto, queria voar cada vez mais alto e adorava enxergar o mundo do alto.

A borboleta branca ao contrário, gostava de voar acompanhada e de cuidar de outras borboletas. Voava baixo, sempre baixo pois a altura não lhe importava, a distância do vôo era mais importante do que a altura.

O que as duas borboletas não sabiam era que genéticamente havia uma grande diferença entre elas. A azul, conseguia voar mais alto, pois não tinha coração, Isto a fazia mais leve e querer sempre atingir espaços mais altos. A branca por sua vez, tinha que carregar o peso de seu coração. Voava baixo, rente ao chão, não conseguia subir pois seu coração a impedia de fazer tentativas que estavam ligadas a estar livre do peso excedente.

O que a borboleta azul desconsiderava era que a borboleta branca sempre fora apaixonado por ela. Quando se cruzavam, a branca tentava alcançar a azul, mas a falta de coração sempre fazia com que a azul se distanciasse e voasse para onde sempre quis. Para o alto e para longe. Passava-se o tempo e as duas voltavam a se cruzar e as azul cada vez mais alta e mais longe. A branca tentava, tentava, tentava alcançar a azul mas esta, de sua altura, cada vez mais não percebia a branca à sua volta.

Um dia, a distância entre as duas ficou grande demais. A branca desistiu de tentar alcançar a azul, desistiu de tentar e não ser vista. Desistiu de se mostrar e não ser percebida. Desistiu de querer mostrar que seu branco era mais puro que das outras borboletas que voavam mais alto. Desistiu de fazer seus belos belos vôos razantes, de mostrar que voava na direção da outra por amor, de querer convencer a azul a descer um pouco da altura, de fazer com que a azul percebesse tudo de bom que esta tinha, e deixou a borboleta azul sumir em seu horizonte alto e egoísta.

Sozinha e tentando voar cada vez mais alto, a azul foi sumindo e envelhecendo sozinha, lá no alto, tentando sempre subir e subir. Até que um belo dia, pensando que estava voando muito alto, sem saber que suas forças já não eram as mesmas, voava no meio das nuvens que encobriam sua visão, bateu em uma grande árvore e caiu lá de cima. Estatelou-se no chão, sozinha e sem ninguém para acudir.

A borboleta branca também já bem velhinha, admirou-se de ver a azul abaixo, caída e batendo suas asas num último momento de vida. Ainda tentou descer e ajudar a azul, mas chegou tarde e a azul não tinha mais forças para resistir.

A borboleta branca seguiu seu caminho, voando baixo e levando consigo o peso do seu coração que sempre fez com que as duas nunca pudessem voar juntas.

Moral da estória:

Aqueles que não tem coração, conseguem ter a frieza necessária para voar mais alto pois não sentem remorsos em  desprezar os que ficam abaixo e para trás, mas sem perceber, os insensíveis e egoístas acabam sendo vítimas da própria cegueira e um dia acabam esbarrando em algo que irá devolvê-los ao chão, e neste momento, ninguém mais poderá ajudá-los.


texto(2000) e foto: Orley

FÁBULA: O PRISIONEIRO CHINÊS

Numa velha província chinesa, um jovem foi acusado injustamente por um crime que não cometera. Mesmo sendo inocente, foi julgado e condenado a muitos anos de prisão. Guardas imperiais escoltaram o pobre chinês até o alto de uma montanha, onde fora erguida uma fortaleza impenetrável, isolada e com muros altíssimos. 

Terminada a subida da montanha, os guardas pedem que os portões se abram para a entrada do prisioneiro. O jovem chinês amarrado pede aos guardas um instante para entrar. De fronte aos portões, vira-se e fica mirando o cenário que se avistava por cima da montanha. Longos minutos se passam em absoluto silêncio até que os guardas interrompem e fazem o pobre coitado entrar. 

Dias, semanas, meses e anos se passam naquela prisão e o jovem executava uma rotina diária, inalterável. Saía ao pátio interno, quando deixavam, e sem dizer palavra, sentava-se no chão poeirento virado para as altas muralhas por onde um dia entrara e ficava olhando, num ponto fixo em direção das barreiras de pedras que o separavam do mundo exterior. 

Longo tempo se passou até que foi chamado à presença do mestre da prisão. Já não tão jovem, maltrapilho, meio arqueado, nada limpo e com uma barba cheia de fios emaranhados que descia desde que ali entrara, recebe a notícia de que houvera uma mudança no comando da província onde vivera e aqueles que o condenaram já não mais possuíam poder e para seu crime não encontraram justificativa. Sua liberdade fora decretada e o mesmo poderia voltar à sua cidade. 

Perante a passividade que recebe a notícia, o mestre pergunta ao prisioneiro:

 -  Então, não está feliz por ganhar sua liberdade de volta?

A resposta foi curta como as poucas palavras que sempre proferira naquele ambiente.

 -  Quando aqui entrei, instantes antes gravei na minha memória a imagem que registrei do mundo que via. Todo dia sentava e desprezando as muralhas, ficava olhando na direção de onde sabia, estava aquilo que tinha registrado. Logo, nunca estive preso, minha liberdade estava na minha capacidade de poder enxergar além das muralhas.

 O chinês tranqüilo ouve os portões da prisão fecharem-se atrás de si e segue passivamente montanha abaixo, parando um instante apenas para olhar a paisagem que vira da última vez que ali estivera.

Moral da estória:

Liberdade é uma questão de mente e espírito. Somente aqueles que querem se sentir livres e conseguem enxergar através dos muros é que sabem usufruir da completa liberdade.

foto e texto(2006): Orley

FÁBULA: A PRINCESA E O CAVALEIRO

Séculos e séculos atrás, numa província muito pequena, vivia uma princesa em seu castelo no alto do morro, cercado por um vilarejo muito simples e gente que só fazia trabalhar para sustentar os luxos da dona do castelo. A princesa, que em tudo mandava, além de feia e muito arrogante, usava de todo seu poder para que todos a obedecessem em tudo e fizessem todas as suas vontades. Por onde passava, todos eram obrigados a fazer reverências e a enaltecer uma beleza que todos sabiam que ela não tinha, mas era imposta por sua mão de ferro. 

Um dia, cruza o vilarejo, um cavaleiro germânico que vinha de inúmeras batalhas e procurava um local para descansar. Cavalgando lentamente, o guerreiro viu o cortejo da princesa passar, e mesmo reconhecendo a falta de beleza de mesma, apaixonou-se à primeira vista. A princesa que tudo queria para si, notou o olhar apaixonado dirigido para ela e manda um de seus lacaios fazer um convite para um jantar em seu castelo, naquela mesma noite. 

Durante todo o tempo em que jantavam, a princesa fez questão de mostrar-se superior ao cavaleiro que não cansava de lançar olhares apaixonados para a mesma. Terminada a refeição, a princesa manda seus guardas aprisionarem o cavaleiro no calabouço do castelo. 

Dias após dias, meses após meses, a princesa continuava mantendo o cavaleiro no cárcere e, toda vez que queria sentir prazer, seus guardas buscavam o cavaleiro que era obrigado a servir a princesa até que ela se sentisse totalmente saciada, só então seu amante era devolvido à cela que fora confinado. 

Anos se passaram até que um dia os guardas vão buscar o cavaleiro e encontram a cela vazia e um imenso buraco cavado por detrás de uma das pedras que cobriam a minúscula cela. Rapidamente os guardas voltam ao aposento da princesa com uma pequena mensagem escrita com sangue, em um dos resto das roupas do cavaleiro. 

Notificada do ocorrido, a princesa lê a mensagem onde se lia: 

- Por muito tempo fui prisioneiro do amor que sentia por vós. Desprezei tua falta de beleza, acostumei-me à tua arrogância e não me incomodava com teus mandos. Toda vez que me usava, voltava à cela e cavava mais um pouco da minha saída desta cela. Quando perdi a esperança que um dia pudesse demonstrar um pouco de afeto por mim, cavei o pouco que restava para minha liberdade. 

Passaram muitos anos e a princesa manteve-se fechada em seu castelo, olhando para o horizonte, através da janela de seu quarto, na esperança que um dia o cavaleiro voltasse aos seus braços.  

Moral da estória:

Por amor, um homem pode desconsiderar a beleza e os defeitos de uma mulher e se tornar seu prisioneiro voluntário. Mas se o mesmo se sentir desprezado e usado, não haverá nada que  conseguirá manter o mesmo preso ao seu lado por muito tempo.

texto (2001) e foto: Orley

FÁBULA: O BEDUÍNO E A CAMELA

Após vários dias caminhando pelo deserto, já há muito tempo sem água, um beduíno seguia com três camelas, até que avistou um oásis.

Pouca água restava no oásis, não daria para ele e as camelas, refletiu o beduíno.

Soltou uma das camelas que saiu em disparada em direção da água. Esta abaixou e bebeu 90% da água que havia.

O beduíno soltou a segunda camela. O animal chegou perto da pouca água que restava e vendo que a primeira camela havia bebido quase tudo, enfureceu-se, avançou mordendo e dando coices até que as duas caíram no chão bastante machucadas.

A terceira camela foi solta pelo beduíno e não saiu do lugar. Ficou parada estática, só olhando.

Segurando a camela pelas rédeas, o beduíno foi até a água, ajoelhou-se e bebeu um pouco, refrescou-se mais um tanto e levou o que restava da água até a boca da camela. O animal bebeu o que restava e lambeu o rosto do beduíno.

O beduíno seguiu seu caminho com a terceira camela, deixando as demais no oásis seco.

  

Moral da estória:

 

Não conte com as egoístas que querem tudo para si, nem com aquelas que o pouco lhes parece nada. Para seguir um caminho junto, leve aquela que pensa em si e nos outros, sabe contentar-se com o pouco que lhes é oferecido e ainda sabe ser reconhecida.

fotos e texto(1998): Orley