
Numa velha província chinesa, um jovem foi acusado injustamente por um crime que não cometera. Mesmo sendo inocente, foi julgado e condenado a muitos anos de prisão. Guardas imperiais escoltaram o pobre chinês até o alto de uma montanha, onde fora erguida uma fortaleza impenetrável, isolada e com muros altíssimos.
Terminada a subida da montanha, os guardas pedem que os portões se abram para a entrada do prisioneiro. O jovem chinês amarrado pede aos guardas um instante para entrar. De fronte aos portões, vira-se e fica mirando o cenário que se avistava por cima da montanha. Longos minutos se passam em absoluto silêncio até que os guardas interrompem e fazem o pobre coitado entrar.
Dias, semanas, meses e anos se passam naquela prisão e o jovem executava uma rotina diária, inalterável. Saía ao pátio interno, quando deixavam, e sem dizer palavra, sentava-se no chão poeirento virado para as altas muralhas por onde um dia entrara e ficava olhando, num ponto fixo em direção das barreiras de pedras que o separavam do mundo exterior.
Longo tempo se passou até que foi chamado à presença do mestre da prisão. Já não tão jovem, maltrapilho, meio arqueado, nada limpo e com uma barba cheia de fios emaranhados que descia desde que ali entrara, recebe a notícia de que houvera uma mudança no comando da província onde vivera e aqueles que o condenaram já não mais possuíam poder e para seu crime não encontraram justificativa. Sua liberdade fora decretada e o mesmo poderia voltar à sua cidade.
Perante a passividade que recebe a notícia, o mestre pergunta ao prisioneiro:
- Então, não está feliz por ganhar sua liberdade de volta?
A resposta foi curta como as poucas palavras que sempre proferira naquele ambiente.
- Quando aqui entrei, instantes antes gravei na minha memória a imagem que registrei do mundo que via. Todo dia sentava e desprezando as muralhas, ficava olhando na direção de onde sabia, estava aquilo que tinha registrado. Logo, nunca estive preso, minha liberdade estava na minha capacidade de poder enxergar além das muralhas.
O chinês tranqüilo ouve os portões da prisão fecharem-se atrás de si e segue passivamente montanha abaixo, parando um instante apenas para olhar a paisagem que vira da última vez que ali estivera.
Moral da estória:
Liberdade é uma questão de mente e espírito. Somente aqueles que querem se sentir livres e conseguem enxergar através dos muros é que sabem usufruir da completa liberdade.
foto e texto(2006): Orley
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